05 outubro 2005

Importações devem crescer num ritmo maior no próximo ano

Economistas e especialistas em comércio exterior começam a consolidar as perspectivas para a balança comercial em 2006 e muitos reconhecem que estão repetindo as mesmas estimativas feitas no final de 2004 para este ano. Mas, dizem, desta vez deverá ser diferente.
"Este ano todo mundo errou. A expansão das importações num ritmo mais acelerado do que o das exportações era a única certeza do início do ano e não ocorreu. Erraremos de novo caso ocorra em 2006 novos aumentos dos preços internacionais das commodities - o que é pouco provável - e que os manufaturados, bens sensíveis a câmbio que até hoje mantêm o fôlego, novamente não atingissem um ponto de saturação", diz o vice-presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
Para o próximo ano, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) espera que as exportações cresçam 6,2% em relação à expectativa para a este ano, chegando a US$ 123,7 bilhões. Já as importações deverão imprimir um ritmo bem mais forte - 21,3% superior ao resultado deste ano -, chegando a US$ 93,9 bilhões, segundo cálculos apresentados pelo diretor de estudos macroeconômicos do instituto, Paulo Levy. O saldo deverá fechar em US$ 29,8 bilhões positivos. "Isso quer dizer que as importações deverão manter mais ou menos o mesmo ritmo de hoje, enquanto as exportações devem desacelerar significativamente."
As principais preocupações para o comércio exterior brasileiro, consenso entre economistas, são a valorização cambial, a sua flutuação acentuada, a redução do ritmo de crescimento mundial, e uma eventual redução dos preços de commodities. O Fundo Monetário Internacional (FMI) já revisou marginalmente a expectativa de crescimento mundial para 2006, de 4,4% para atuais 4,3%. Para o ano de 2005, a projeção ficou estável em 4,3%. O FMI também indicou riscos de a demanda mundial ser afetada pela alta dos preços do petróleo no ano que vem.
Para 2006, o economista da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex) Fernando Ribeiro segue as expectativas dos colegas, com exportações crescendo menos e o saldo comercial menor, mas sem nenhum surto importador. "O câmbio não prejudicará as exportações e a entrada de produtos importados não ameaça a indústria nacional. O destino do comércio exterior brasileiro depende de duas variáveis: o crescimento do PIB doméstico no ano que vem que deve ser inferior ao deste ano e a velocidade da desaceleração da economia mundial, que ainda deverá apresentar um crescimento significativo em 2006."
Projeções do Banco Central, segundo o relatório trimestral de inflação divulgado na quinta-feira passada, apontam redução de US$ 9 bilhões no saldo da balança comercial em 2006. A expectativa é que as compras de mercadorias importadas somem US$ 92 bilhões em 2006, frente a projeção de US$ 76 bilhões para este ano.
As exportações, por sua vez, devem passar dos US$ 114 bilhões previstos pelo BC para 2005 para US$ 121 bilhões no próximo ano. "Os exportadores não podem continuar a crescer por um período muito longo dada a taxa de câmbio de R$ 2,30. Os aumentos de preço em moeda estrangeira obtidos e a necessidade de cumprir contratos têm sustentado as exportações que são dependentes da continuidade do crescimento da economia mundial", disse o diretor de Comércio Exterior do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Humberto Barbato.
Segundo dados do Ministério, 90% das importações brasileiras estão de alguma forma ligadas à produção e apenas 10% de tudo que o Brasil importa são bens de consumo. Por isso, o aumento esperado para as importações está ligado às expectativas sobre o comportamento da economia. Quanto maior o ritmo de crescimento, maior é a procura por máquinas e matérias-primas estrangeiras, que são utilizadas por empresas na expansão de sua produção. A queda do dólar também favorece os importadores, já que o produto estrangeiro fica mais barato. Até agora, porém, a queda do dólar e a expansão da economia não têm evitado que a balança comercial continue resistente.
Câmbio mais estável - O real valorizado não impediu, até agora, novos recordes da balança comercial. Na semana passada, a valorização do real em relação ao dólar registrou a cotação mais baixa desde maio de 2001. Mas esta ainda é uma preocupação entre os economistas que esperam pelo menos flutuações mais suaves em 2006.
Ribeiro trabalha com câmbio médio de R$ 2,50 para 2005, fechando o ano em R$ 2,30, com tendência de estabilidade neste patamar ao longo de 2006. Barbato projeta o câmbio em R$ 2,40 no final do ano e estável em torno de R$ 2,70 ao longo de 2006, com o aumento da taxa de juros nos Estados Unidos e corte na Selic. "Mas não acredito mais em um limite de patamar, na verdade estamos pagando o preço de fazer superávit." Ontem, o leilão de compra de dólares após seis meses de ausência do BC não foi suficiente para impulsionar o dólar, que encerrou o dia estável, no mesmo preço de fechamento anterior, a R$ 2,230. (Fonte: e-clipping DECEX/ Gazeta Mercantil)